quarta-feira, 14 de maio de 2014

Aníbal Cristobo: "O que fica é o ar, inquieto por um instante".



Os poemas de Aníbal Cristobo talvez lembrem pequenas manchas de luz projetadas a partir de um ponto em nosso corpo inalcançável pela vista: quando o resto do corpo tenta alcançá-las, elas se moveram um pouco mais adiante. No espaço entre o que diz o poema, ou em como ele age sobre o pensamento, sobre a composição de frases no pensamento, e a percepção dos deslocamentos que promove na linguagem, o leitor faz(-se) e desfaz(-se) na poesia, numa espécie de movimento contínuo. Aqui, talvez não interesse tanto alcançar uma forma projetada, mas como se desfazem formas estabilizadas do poético, e o movimento de se pôr na direção de outra, ou melhor, na direção de um outro. Não é à-toa que as palavras que Manoel Ricardo de Lima escolhe para abordar a prática poética de Aníbal sejam viagem e encontro.



Nesta semana, nós, da Bliss Não Tem Bis, estamos promovendo, em parceria com a EdUERJ que comemora 20 anos de existência agora em maio de 2014, e a Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, uma rodada de (re)encontros entre Aníbal Cristobo e o Rio de Janeiro – que se iniciou com a mesa Edição de poesia: modos de fazer e de desafazer, que contou com Marília Garcia (que falou sobre seus anos de experiência como parte da equipe da 7letras e sobre a revista de poesia Modo de Usar & Co.) e com Ítalo Moriconi (que falou sobre a coleção de crítica e antologia Ciranda da poesia e sua atuação frente à EdUERJ).






Nossa compreensão é a de que o conjunto de uma produção poética se faz singularmente através de encontros, contatos entre poéticas em ação em línguas diversas. Tal compreensão permite vislumbrar a importância da figura de Aníbal Cristobo para os desdobramentos recentes na poesia contemporânea em português brasileiro e em castelhano.



O poeta e editor, nascido em Buenos Aires, Argentina, veio a morar durante 5 anos no Rio de Janeiro no final da década de 90 do século passado, e acabou se envolvendo intensamente no debate cultural acerca da poesia e publicando aqui seus primeiros livros. Desde que se mudou para Barcelona e fundou uma editora voltada para a poesia contemporânea, tem sido um dos pioneiros a publicar em castelhano a produção brasileira da década de 70 para os dias de hoje (apresentando as primeiras traduções de jovens poetas em atividade, como Ricardo Domeneck, por exemplo). Também devemos lembrar o destaque conferido à movimentação da cena poética e do pensamento crítico sobre poesia brasileira a partir do blog Escolhas Afectivas, capitaneado pelo argentino a partir de 2006.



Nesse sentido, que nos interessou tanto a ideia de um reencontro com fontes importantes para a discussão poética no contexto da cidade do Rio de Janeiro, quanto a de ver as diferenças (tanto do contexto e da cidade quanto de Aníbal e sua percepção) em ação num diálogo vivo entre esses elementos.



Amanhã, 15/05/2014, acontece um segundo encontro na Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, com leituras de poesia e performances poétcas de Aníbal, Marília Garcia e dos editores deste blog. Também será a noite do lançamento do livro novo de Aníbal Cristobo, Minha vida como bactéria, edição bilíngue da 7letras com texto traduzido para o português por Marília Garcia e Luciana di Leone.



Por enquanto, apresentamos um pequeno mosaico de falas de Aníbal retiradas de entrevistas feitas em momentos diferentes de sua carreira, trecho de crítica sobre sua obra nas palavras de Manoel Ricardo de Lima, e uma seleção de seus poemas, a partir de Miniaturas Kinéticas (Cosac Naify/7letras, 2005) e Aníbal Cristobo por Manoel Ricardo de Lima (Ciranda da poesia, EdUERJ, 2013). As traduções para o português dos poemas são de Carlito Azevedo, à exceção do último, Minha vida como bactéria, traduzido pelo Manoel Ricardo de Lima.



***




Trecho da Entrevista Nem touros, nem guarda-chuvas, por Hasier Larretxea, tradução de Luca Argel (publicada originalmente em Chão da Feira). [Você ler a entrevista na íntegra aqui]



[Aníbal Cristobo]: Penso que se vemos isso [idealizar uma editora de poesia] como uma aposta, corremos o risco de acreditar que haverá um único número ganhador, ou de algum modo ficaríamos presos à ideia de um resultado que comprovaria se temos ou não razão em fazer o que fazemos. Vamos perder tudo, e como queria Beuys, nos alimentaremos dos desperdícios das nossas próprias energias. Talvez seja bom que deixemos de pensar na poesia em termos de marketing empresarial e passemos a entendê-la como um ecossistema: o que queremos desenvolver em Kriller71 é isso, esse sentido de oferenda que propicia que um circuito seja sustentável, ao menos por um instante. Que alguém que deve quase tudo à poesia, como é o meu caso, possa tentar fazer uso de suas forças para devolver algo do que recebeu. Nesse sentido é quase anedótico que o projeto seja economicamente inviável, porque pela mesma regra de três podemos chegar à conclusão que o mais correto para um elefante seria a imobilidade, ou que ter amigos não é uma atividade rentável, e evidentemente não se trata disso. Com isso, invertendo os termos eu te diria que não, que oferecer algo que se faz com paixão, buscando entregar o melhor de si, nunca é arriscado. Arriscado é acreditar que podemos viver sem poesia.


*


Poemas



Cielo del Allatolah



La voz del Allatolah – UNKNOWN

PERSISTING SUBSTANCE – es también

una cinta de luz



repetida en el aire como flujo magnético

y descompuesta en cálculos y ritmos, en calor,

en impulsos binarios



y es el monte

con su kit de fragancias y de vientos



y arenga,

domadora de piedras y de imágenes.



El must del Allatolah no es uma distorsión: es fulgor

que rige en el desierto y en las flores

– em las lajas simétricas

como en la enramada estroboscópica

del árbol y la luna: – Allatolah’s sky

en lo alto de la torre.–



---



Céu do Aiatolá



A voz do Aiatolá – UNKNOWN

PERSISTING SUBSTANCE – é também

uma fita de luz



repetida no ar como fluxo magnético

e decomposta em cálculos e ritmos, em calor,

em impulsos binários



e é o monte

com seu kit de fragrâncias e de ventos



e arenga,

domadora de pedras e de imagens.



O must do Aiatolá não é uma distorção: é fulgor

que rege no deserto e nas flores

– nas lajes simétricas

como na ramagem estroboscópica

da árvore e da lua: – Aiatolá’s Sky

no alto da torre.–



*



Test de la iguana



Animal: figura de la velocidad

y de la forma – mancha

de luz – que ha cruzado el camino:

el paso de la iguana y su

sello en la arena: reposo,

repetición del cuerpo



y lo impregnado: la

huella

como libro de pasiones

y de asombro; y espejo: desdoblando

tu voz, igualándola

con tu propio deseo



como en algo

como en un ejercício metonímico:



“el paso de la iguana

y su sistema de indeterminación: forma



o velocidad?”



Iguana:

tus ojos fríos em la piedra naranja,

rapidísimos,

como final de toon.–



---



Teste da iguana



Animal: figura da velocidade

e da forma – mancha

de luz – que cruzou o caminho:

o passo da iguana e seu

selo na areia: repouso,

repetição do corpo



e o impregnado: a

pegada

como livro de paixões

e de assombro; e espelho: desdobrando

tua voz, igualando-a

com teu próprio desejo



como em algo

como num exercício metonímico:



“o passo da iguana

e seu sistema de indeterminação: forma



ou velocidade?”



Iguana:

teus olhos frios na pedra laranja,

rapidíssimos,

como final de toon.–



*



Guajiro Killer



La pasta del guajiro está cebada

cuando cambia de manos. Venenosa

entre los matorrales sin sombra

de Cabo de la Vela. Guajiro Killer

por la calle de tierra:



“amanecí

entre aquellas cervezas, mirando

el contrabando y la pesca del viejo,

las cabras amarradas al salitre,

el espejismo del camión cisterna



en fin,

todo sudado”. Guajiro Killer

vuelve a cobrar su tédio; un delicado sistema de

venganzas

jalándolo del hombro.



Un día el guajiro se se acaba: cristalizado en sal

estalla su bromuto de plata; lanza

el flash de su record

contra tus ojos blandos de conejo asustado



contra tu corazón,



infinito reporter,

con su pequeña islã

de pudor y de miedo.–



---



Guajiro Killer



A erva do guajiro está cevada

quando muda de mãos. Venenosa

entre os matagais sem sombra

de Cabo de la Vela. Guajiro Killer

pela rua de terra:



“amanheci

entre aquelas cervejas, olhando

o contrabando e a pesca do velho,

as cabras amarradas ao salitre,

a miragem do caminhão cisterna



enfim,

todo suado”. Guajiro Killer

volta a cobrar seu tédio; um delicado sistema de

vinganças

puxando-o pelo ombro.



Um dia o guajiro se acaba: cristalizado em sal

estoura seu brometo de prata; lança

o flash de seu record

contra teus olhos brandos de coelho assustado



contra teu coração,



infinito repórter

com sua pequena ilha

de pudor e de medo.–



*



Bloody Mary



En la cama, con cuidados

mayores que el amor, con

temor

los niños

han dibujado en lo desconocido.



Han tocado las luces en el suelo.

Han contado sus fotos.



Allí: el cine de los niños, instalado

en la infinita blancura de

sus cuerpos: y el pudor



con su imaginación reveladora;

su guión del vacío.



Su esplendor.–



---



Bloody Mary



Na cama, com cuidados

maiores que o amor, com

temor

os meninos

têm desenhado no desconhecido.



Têm tocado as luzes no chão.

Têm contado suas fotos.



Ali: o cinema dos meninos, instalado

na infinita brancura dos

seus corpos: e o pudor



com sua imaginação reveladora;

seu roteiro do vazio.



Seu esplendor.–



*



Una ballena blanca (check-in)



Con eses objetos conocidos y con

esa ballena blanca



hablás: cuando estás solo

y esas canciones son la música

de los momentos felices



ves en una curvatura

cola de ballena en el mar, en esos



reflejos

manchas de luz y musgo



en las manos

sentado entre las rocas

por primera vez

respiras – contemplas



a tu ballena blanca: una

iluminación, un niño en el oceano.–



---



Uma baleia branca (check-in)



Com esses objetos conhecidos e com

essa baleia branca você



fala: quando está só

você e essas canções são a trilha

dos momentos felizes



vê numa curvatura

cauda de baleia no mar, nesses



reflexos

manchas de luz e musgo



nas mãos

sentado entre as rochas

pela primeira vez

você respira – olha



a sua baleia branca: uma

iluminação, criança no oceano.–



*



Jet-lag (Lisboa)



No sos

un pasajero com movilidad

reducida, o no



caminarías en las calles de

Lisboa, en la calle Escondrijo tu perro

de la suerte es un gato; y vos

va a ver delfines prisioneros

en las ramas de un árbol – nadie más



sabe

cómo volver a casa. Cuarto

de hotel: solo te quedás

si hay Adília em la tele, si ella

usa esos guantes rosa, de



lana, y si habla

de San Francisco y los líquenes, de los

rayos equis. Sólo te quedás

si ella entonces pregunta: “¿quién no juega

con los sentimientos de las otras personas?”



---



Jet-lag (Lisboa)



Não é você

um passageiro com mobilidade

reduzida, ou não



caminharia nas ruas de

Lisboa, na rua Esconderijo seu cachorro

da sorte é um gato; e você

vai ver golfinhos presos

entre os galhos das árvores – ninguém mais



sabe

como voltar pra casa. Quarto

de hotel: você só fica

se tiver Adilia na televisão, se ela

estiver de luvas cor-de-rosa de



lã, e se ela

falar de São Francisco e dos liquens, dos

raios xis. Só fica

se ela então perguntar: “quem não brinca

com os sentimentos das outras pessoas?”



*



Ñandú



Llega el ñandú – cansado

de transmitir su acorde – y susurra

en tu oído:



- basta de peso físico, dice

- a pastar, dice



Pero el ñandú es la bomba

de tiempo! Es el ladrón! Te descubre

sentado entre las rocas:



- vamos hacia lo abierto, dice

- la curva del espacio, dice



Si hay un diamante, es

el de la persuasión y distracción – como un

ilusionista: “el secreto es el viaje”, sueña

que te hipnotiza; pero también:



- “Yo no soy el ñandú! El ñandú

es invisible, y no es cierto

que mire al cielo, esperando instruciones”.–



---



Ema



Chega a ema – cansada

de transmitir seu acorde – e sussurra

em teu ouvido:



- basta de peso físico, diz

- pastar, diz



Mas a ema é a bomba

de tempo! É o ladrão! Te descobre

sentado entre as rochas:



- vamos para o aberto, diz

- a curva do espaço, diz



Se há um diamante, é

o da persuasão e distração – como um

ilusionista: “o segredo é a viagem”; sonha

que te hipnotiza; mas também:



- “Eu não sou a ema! A ema

é invisível; e não é verdade

que olhe o céu, aguardando instruções”.–



*



Ghost writer



El poeta, y

sus procedimientos: (aquí) círculo



al que regresan las pasiones – casi

sin voz –

ensombrecidas por la imaginación.



Ángulo del poema: “que al hablarte

exista intimidad, y que todo

pueda ser perdido



y reencontrado así: en otros

escenarios”.



Las pausas del poeta, y

su mímesis

como efecto poema, calco, miniserie

de gestos



disparando el sentido, el

sonido, del



otro lado – así, en

un final continuo: Aníbal



no está! Aníbal

se durmió!–



---



Ghost writer



O poeta, e

seus procedimentos: (aqui) círculo



a que regressam as paixões, – quase

sem voz – ensombrecidas

pela imaginação.



Ângulo do poema: “que ao falar com você

exista intimidade, e que tudo

possa ser perdido



e reencontrado assim: em outros

cenários”.



As pausas do poeta, e

sua mímesis

como efeito poema, decalque, mini-série

de gestos



disparando o sentido, o

som, do



outro lado – assim, em

um final contínuo: Aníbal



sumiu! Aníbal

está dormindo!–



*



Los animales viejos



Inmóviles, como ramas secas

al sol, los animales viejos.



Los veo caer, iluminarse

con un rayo antes de la tormenta. Caer

vaciando sus pulmones con

un soplo: lanzan

un aire negro que los quema por dentro.



Cuero mal preparado, ese cuerpo

no ha llevarlos más: al

arroyo. A las estaciones

buenas.



No quieren, ni

saben pensar en redención. La muerte

no los hace diferentes, apenas

indefensos frente a las moscas y el

polvo. Miran



sin pestañear, pero nadie

los llama, ni elogia sus virtudes. Pasan

los días: por qué

la tierra habria de curarlos? Sería mejor

así? Si en el fuego

las patas se retuercen y



quiebran; cómo saber

que se encuentran a salvo?–



---



Os animais velhos



Imóveis, como galhos secos

ao sol, os animais velhos.



Vejo-os cair, iluminar-se

com um raio antes do temporal. Cair

esvaziando seus pulmões com

um sopro: lançam

um ar negro que os queima por dentro.



Couro mal preparado, esse corpo

nunca mais há de levá-los: ao

riacho. Às boas

estações.



Não querem, nem

sabem pensar na redenção. A morte

não os torna diferentes, apenas

indefesos frente às moscas e ao

pó. Olham



sem piscar, mas ninguém

os chama, nem elogia suas virtudes. Passam

os dias: por que

a terra teria de curá-los?

Seria melhor assim? Se no fogo

as patas se retorcem e



se quebram; como saber

que estão a salvo?–



*



Mi vida como bacteria



Cuando empece a escasear, la orden

fue que actuara con naturalidad, que partiera

de escenarios mutuamente excluyentes –



que marcase algún cero absoluto, por

telefono



– o que me desprendiera de todo lo anterior, y me quemase

una vez leído: me vindo a la memoria el chiste

de la conversación entre dos asesinos

que fingen reconstruir el acento, los hábitos lingüísticos

de la víctima

usando las propiedades de sus gritos, pero cada vez

una pausa en la programación los distrae, haciendo que la broma

nunca acabe, y la risa

se sume al resto de tareas pendientes. Ahora se abrirán los turnos de debate

al respecto, y si com eso

se pudiera restablecer el flujo, se sabría

que hemos sido disueltos por opiniones públicas, formateados

por la corrosión – como una muestra de laboratorio.



---



Minha vida como bactéria



Quando comecei a diminuir, a ordem

foi que agisse com naturalidade, que partisse

de cenários mutuamente excludentes –



que marcasse algum zero absoluto, por

telefone



– ou que me desprendesse de tudo, antes, e me queimasse

logo depois de lido: me lembrei da piada

da conversa entre dois assassinos

que fingem reconstruir o sotaque, os hábitos linguísticos

da vítima

usando as propriedades de seus gritos, mas cada vez

uma pausa na programação os distrai, fazendo com que a piada

nunca acabe, e a risada

se junte ao resto das tarefas pendentes. Agora se abrirão os turnos de debate

sobre isso, e se com isso

se pudesse restabelecer o fluxo, se saberia

que temos sido dissolvidos pela opinião pública, formatados

pela corrosão – como uma mostra de laboratório.



*



Trecho da Entrevista Aníbal por Memorial [Você pode ler a entrevista na íntegra aqui]



[Aníbal Cristobo]: O que você quer obter? Quer uma forma? Então é preciso congelar tudo. É preciso que nada mais aconteça. Que possamos estudar os fenômenos (os fenômenos da poesia, neste caso) num estado de paralisia absoluta. Essa forma é sempre hipotética. Nunca há condições para fazer esse experimento. Nunca há imobilidade. Nem dos fenômenos, nem do observador. Acho que isso é uma ilusão antiga. Uma “ciência da poesia” fadada ao fracasso.



Porém, se você prefere obter velocidade, você nunca terá um dado certo. Mas é uma experiência que pode ser feita. Digamos que há dois corpos. Ambos se acham lançados a velocidades diferentes, a estilos diferentes. O que se pode dizer disso? Apenas o ponto de interseção entre eles. O breve momento da leitura. Eles passam, eles se ultrapassam: o que fica é o ar, inquieto por um instante. Esse ar. E um barulho que já não soa mais. Melhor ainda: a lembrança desse barulho. Não é muito o que se possa dizer, porém alguma coisa aconteceu ali.



Há alguma conclusão possível disso? Esse tipo de fenômenos não tolera um juízo. Eles não são compatíveis com isso. É um limite experiencial, mas seus resultados não têm uma medida: eles afetam apenas um ponto que só está disponível para essa operação.



*



Trecho de Aníbal Cristobo, por Manuel Ricardo de Lima. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013. (Ciranda da Poesia).



A poesia de Aníbal Cristobo, de alguma maneira, empresta-nos uma possibilidade de mudar o olhar, o ponto de observação, assim como nos imprime a figuração da paralaxe, porque é uma poesia do encontro e para o encontro e, ao mesmo tempo, uma poesia de viagem e em viagem. Isso nos possibilita, portanto, montar uma questão muito interessante, porque estamos diante de uma poesia que é também, (...), quase toda forçadamente bilíngue a partir do alumbramento de um outro, ou anfíbia. E anfíbia como a qualidade que se diz daquele que pode viver e andar tanto sobre a terra quanto sobre a água, daquele que tem dois temperamentos distintos, opiniões sempre opostas (e oposto não como o que está em sentido inverso, apenas, mas também como o que está posto à frente de), uma vida dupla, (eis o duo, ou o amigo), uma prática itinerante, alguns deslocamentos e a aventura etc. – ao se justapor, por exemplo, quando impressa, entre o espanhol falado e escrito que vem de Buenos Aires, contaminado por uma vivência agora em Barcelona, e o português falado e escrito que vem do Rio de Janeiro. Uma bipolaridade sugerida na figuração de um poeta que se apresenta também como complementador.

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