terça-feira, 7 de outubro de 2014

Ceci y Fer [Parte 2/2] – Já não leria livros, só e-mails

Essa semana damos continuidade à seleção de traduções (iniciada aqui) do primeiro número da revista de poesia argentina: Cecy y Fer (poeta y revolucionaria), das Argentinas Cecilia Pavón e Fernanda Laguna.

O que arrebata na revista de 2002, é a intensidade que os textos da assim chamada hotmail poetry atingem com tons aparentemente banais. Não raro é passar por alguma tradução de letra de música ou poema e pensar “mas que bobagem”, quando a operação que se dá de fato, nada tem de boba. Pelo contrário, na revista o íntimo e a máxima exposição (ou talvez mais acertado seja falar em performance) tomam o lugar que, numa revista, estaria destinado ao literário. A literatura tem pouco espaço nas páginas (imprimidas em papel A4 preto e branco e grampeadas) de Cecy y Fer. Ou pelo menos uma literatura. Livros, textos e autores são mencionados, referenciados. Mas quem preenche o espaço são os e-mails, as letras de música da Shakira e os desenhos rabiscados num quase desleixo.

Foi sob essa impressão que, ao apontar nesse trabalho influência direta da cultura brasileira, o artigo da também argentina Cecilia Palmeiro fez com que percebêssemos o esforço de tratar de Ceci y Fer aqui no blog como parte de “um circuito de traduções, roubos e contrabandos mais que frutíferos entre Argentina e Brasil”. Ainda que parte pequena, é bonito.
Beleza e felicidade.

Segue aqui, parte do artigo de Cecilia Palmeiro, junto a mais traduções do primeiro número da revista de Cecilia Pavón e Fernanda Laguna (assinadas por Lucas Matos, Marcio Junqueira e Thiago Gallego).


***

Belleza y Felicidad: Girls just wanna have fun – por Cecilia Palmeiro, em tradução de Thiago Gallego

Em fins dos anos 90, inaugurou-se na cena portenha um novo modo de ser da arte, um escândalo, um quilombo: a editora e galeria Belleza y Felicidad [Beleza e Felicidade]. As amigas Cecilia Pavón, Fernanda Laguna e Gabriela Bajerman, suas figuras mais relevantes, sinalaram quais eram as possibilidades disruptivas da sua geração: o que podiam romper, quais bombas atirar, como agitar?

Fernanda Laguna e Cecilia Pavón fundaram Belleza y Felicidad nos finais de 1999, primeiro como selo editorial e depois como galeria de arte. Cecilia se desvinculou do projeto por volta de 2002 (ainda que seguisse colaborando) e Fernanda continou com a galeria até 2007. Gabriela é amiga íntima, musa e companheira do projeto, e sua revista Nunca nunca quisiera irme a casa [Nunca nunca quis ir para casa], de 1997, é um antecedente de Belleza.

Numa viagem a Salvador (Bahia) Fernanda, Cecilia e Gabriela descobriram um modo de circulação literária que era completamente diferente do de Buenos Aires: a literatura de cordel. Tratava-se de pequenos livrinhos folhetinescos que se vendiam pendurados em uma corda (como a de secar roupa) em negócios que mesclavam a literatura popular com outras bugigangas (objetos baratos transformados mais tarde em kitsch). Essa ideia de mistura de materiais heteróclitos se tornou central para Belleza. Porque tratava justamente de dessacralizar a literatura, de expôr seu caráter de mercadoria ideologicamente negado em um circuito cultural baseado no privilégio de classe, que remete a um modo de produção literária sustentado, tanto nas grandes editoras como nas universidades, pela exploração quase escravista disfarçada sob o manto do prestígio - o prestígio de pertencer à cidade letrada. A partir da década de 60, essa modalidade de circulação literária, como vimos, formou parte das técnicas incorporadas pelos poetas marginais do Rio e de São Paulo. Essa reutilização da literatura de cordel no contexto do desbunde atravessa transversalmente a importação, a princípio incidental, ainda que determinante, que em fins do século passado inspirou parte da dinâmica de Belleza y Felicidad.

Com essa ideia de mistura de materiais heteróclitos recolhida no Brasil, Cecilia e Fernanda criaram o primeiro selo editorial ByF, para o qual a literatura não era apenas uma mercadoria senão uma coisa barata e logo uma galeria de arte no bairro de Almagro, onde a questão não era reunir artistas em um âmbito fechado, mas juntar pessoas que faziam coisas distintas e as compartilhavam com os amigos (lógica que atravessou também a construção do catálogo) pondo em dúvida o estatuto da arte e conceitos como qualidade estética, especificidade e autonomia, e construindo projetos em rede, assim como modos experimentais de comunidade. A renda mais constante vinha primeiro da venda de insumos para artistas plásticos. Os objetos a venda e o público, composto - segundo a hora do dia ou da noite - por vizinhos do bairro, estudantes de belas artes, comerciantes, músicos, jovens artistas, amigos das donas e algum jornalista cultural antenado, tendiam a dissolver os limites entre as mercadorias destinadas às elites e os objetos destinados ao consumo de massas. Em Belleza conviveram os textos dos autores contemporâneos mais experimentais com quinquilharias compradas no mítico bairro de Once, bandas de punk rock, cúmbia villera, objetos de artistas de rua, ou qualquer coisa que chamasse a atenção das meninas.

A partir de então, Belleza e Felicidad se converteu num espaço estranho, porém extremamente hospitaleiro e heterogêneo, único em Buenos Aires. A antítese do modelo cultural argentino: em vez de importar os formados da alta cultura europeia na trajetória típica do centro à periferia, Cecilia e Fernanda tomaram um modelo menor de um país periférico com uma vastíssima tradição popular oral, um passado cultural muito próximo e um cânone literário que havia sido praticamente ignorado na Argentina. Belleza, sem querer, abriu a porta para um circuito de traduções, roubos e contrabandos mais que frutíferos entre Argentina e Brasil. Essa série de curtocircuitos e afetividades gerou as condições de possibilidade para retomar uma antiestética do trash que já havia começado a ser relida e posta em prática em escritas poéticas como as de Santiago Vega/Wáshington Cucurto, Gabriela Bejerman e Daniel Durand, entre outros.

(...)                                   

[O texto continua em: http://cl.enovum.net/?p=502]


Fernanda Laguna e Cecilia Pavón

***


Oioi, Marcin
Não sei se consigo por esses dias fazer qualquer outra coisa que ficar pensando na
ruiva maldita

No mais “busco meu amor”
desculpe se te decepciono Fer, eu que pareço tão feminista... mas meu sonho é ser dona de casa... no mais eu gosto de pendurar a roupa no varal com um namorado
te mando esse poema que escrevi tem um tempo e que explica tudo melhor....


Berlim
Conhecer você era só o que faltava para completar minha educação. Quero mais da vida hardcore do teu lado, com boates e bares, me arrastar pelo chão para que num momento de iluminação me diga. “sim estou disposto a te violar no banheiro”. “Mas só por um breve lapso”.
Quero mais da vida hardcore de Berlim. Gente apertada feito ratos em uma leitura de poesia que rola num salão. Os poemas são bons, estou entusiasmada. Agora vamos por uma Avenida, são três da manhã. O clima é cruel. Aparentemente essa é uma região de ventos. Quero mais das suas mãos duras, quero mais álcool e mais drogas

*


Tua casa

Tua casa estava gelada
essa noite
Nunca dormi num lugar pior
Eu não sabia
  que o interior das casas
conserva o inverno
muito
muito mais tempo
que o ar aberto das ruas.
Então,
essa tarde quando caminhei pelo teu
bairro infernal
e te busquei para uma festa
a primavera podia sentir-se
finalmente
na cidade.
E quando deu a hora em que os
trens deixam de passar
não exitei em te pedir abrigo
Agora me arrependo
Nunca dormi num lugar pior
Essa foi a pior noite da minha vida.
As cobertas eram ásperas e não
aqueciam
tinham buracos
não me deu almofada
e me pôs no corredor estreito
Ali as paredes rugosas
me faziam pensar todo o tempo em
uma cova
E esse ar gelado antigo
do Espaço sem calefação
Não, acho que nunca dormi num
lugar pior
De manhã acordei doente
Vomitei quatro vezes até chegar na
minha casa.
Três na tua
a última num canto do Metro
como me desfazendo de um espírito
malígno que
se houvesse apoderado de mim
nunca dormi num lugar pior
essa casa é prisioneira de um fantasma
Que distinta quando estava vazia
e te acompanhei pra buscar a chave
Nesse dia a casa se via realmente bem
o sol entrava pela janela
das paredes não pendia nada
e no chão não tinha um carpete
marrom.

*


Meu namorado

(Antes de prosseguir, quero dizer a todas as garotas que sou bissexual
E não acredito na monogamia).

O namorado que me amava
O namorado que tinha cachos e foi
meu último namorado.
Depois dele, não teve mais.
Desapareceram.
Os homens lindos eram gays
ou muito novos para mim.
E os mais velhos se foram,
como todos de idade mediana.
Ele foi o último.
Com quem melhor fodi.
porque era um cara sensível e esses são os que fodem melhor.
Comum e sensível com a sofisticação de um herói
Tocava em mim piano,
guitarra, baixo.
Pandeirola e palmas tri boas em todas as canções.

Um músico muito melhor que os eletrônicos de quem gostava antes
Penteava os cabelos na água,
Jamais lavava o banheiro porque as mãos podiam se estropiar.
Isso era eu que fazia e hoje,
as tenho envelhecidas.
Às vezes comia uns sanduíches do tamanho do prato
e os cortava em triângulos
e me servia
e eu dizia:
“Mas... são corações!
Meu amor!
Nossos corações de carne de vaca!”
E que felizes éramos,
quando não nos olhávamos como dois estranhos,
quando à noite
no escuro não nos transformávamos em tios entediados
que não se dão um beijo.
Os dois duros
fitando o teto
com muitas coisas por dizer e em silêncio.

O namorado que tinha perdi
num dia que não o amei.
Um dia não faz muito
porque não posso amar, cada vez que amo, choro
e não posso amar.
Odeio, o odiei porque ele era feliz comigo
e eu não podia ser feliz com nada.

Quero ser de gelo
e ter a forma de um peixe fisgado.

*


já quase não me interessa sair
quando vou às festas buscar inspiração
não paro de pensar em ser
poeta, poeta...
e estou arruinando meu método
que era tão natural
como a respiração
Cada vez menos coisas me interessam mais
que
estar em casa escrevendo
mas ao mesmo tempo se não faço
nada
não vou ter nada pra contar
tenho medo
é culpa dessa revista.
essa revista é demasiado descarnada,
demasiado intensa
está me fazendo mal!

*


Vou falar e peço perdão a todos os meus amigos que possam se sentir ofendidos, a você Fernanda que, bem, acredita na luta pelos direitos das minoroas (e a Guacira Lopes Lobo naturalmente)... mas estou farta dos homossexuais! acho que é uma moda em B.A., por que há tantos guris de vinte que pensam que virar gay é fascinante? Me arrependo de toda a política editorial de belleza y felicidad até agora, essa que nos fez famosas como a única editora de literatura gay. Não vou colaborar mais com essa propaganda.
Meninos da nova geração: não tenham medo das mulheres, mudamos, assustamos um pouco, mas temos muito para dar, o futuro é mulher
A você Fernanda, paremos com isso de publicar poesia gay porque vamos terminar sem amantes e a mim interessam os homens




(Gostaria que essa revista não terminasse nunca, por sua vez gostaria que vendesse milhares de exemplares pra não ter que fazer outra coisa mais que escrever poesia de hotmail na frente do meu computador... já não leria livros, só e-mails)

*


Reflexões automáticas (parte 3)

Vou escrever um romance realista. Já!
Sim, vou fazer! Custe o que custar.
porque o meu estilo corre o risco de se repetir
e se repetir e chatear e ficar preso no mundo da fantasia
que é algo que não chego a compreender.
Creio nela através da fé que é não se fazer perguntas demais.
Tentarei transformar isso já! Agora.
Neste momento preciso, mudo.
Devo escrever um romance agora!
realista, heterossexual e com princípio, meio e fim.
desligo a música para que não me faça decolar na emoção.
Isso é o que devo fazer e o que estou fazendo.

Este é o meu próximo passo
escrever tudo na terceira pessoa
que é mais complexa que a primeira...
porque a primeira
sinto que é mais fácil,
é como escrever um diário.
É escrever o que sinto
uma fantasia
porque meus sentimentos são bem pouco precisos.

Na terceira pessoa
mas também posso colocar coisas,
na história,
que eu vivi.
Coisas de minha realidade
que transporto a uma ficção
que se parece muito com a realidade.
As histórias são ficção
por causa de muitas coisas
mas uma delas é que
não são a realidade.
Quero criar uma história realista.
Oh te invoco, história realista...
E começo já!

Ela escreverá uma história realista,
tomará exemplos do real
que sejam o mais “isto”, a coisa mais coisa possível.
Uma história em que não haja nenhum elemento ambíguo.
Coisas, imagens, ações
Que tenham qualquer traço de “pouco comum” e de “algo raro”.
Ela já está fazendo!
Por exemplo,
palavras que não usará (ela me disse):
fantasma, sombra misteriosa, estranho, oculto,
fada, brilhante e fantástico.
Tampouco coisas de Virgens.

Escutemos...
Ela disse:
“As coisas serão de madeira, de vidro, de metal, de plástico
e, porta adentro, não terá nada.
Se na casa tem um cachorro só,
ele estará só.
Não falará consigo mesmo,
não pensará,
não fará nada que não faça um cachorro comum”.

Para criar esta história a autora está se esforçando muito.

Escutemos novamente...
Ela disse:
“Às vezes me acontecia de me pôr a analisar o real
do grande ao pequeno ou do pequeno ao grande
e sentir que o irreal é meu pensamento.
Ele viaja até as coisas
e volta destroçado.
Os pensamentos são como barcos na bruma tingidos de céu.
Barcos que não se podem tocar mas em que
se está destinado a ter de acreditar neles”.

A autora está vendo navios na câmara escura da mente
e não sabe se a mente é algo que deve pôr na sua história

Escutemos...
Ela disse:
“Contudo, não,
isso é para outra história,
e não devia ter comentado.
Se não conheço algo com clareza,
não falo.
Não, não falo,
insinuo como num jogo.
A mente vem de... não, não falo.
Não, não. Não vou falar”.

Bem.
antes de começar o conto, ela volta a falar.
Escutemos uma última vez...
“A última coisa que digo
Não sei se uma história é uma ficção ou algo que é real.
Não digo mais nada”.

A história gira em torno de um personagem principal
que vive só num apartamento da tijuca num andar alto
Sãens Peña 190
Solteiro, 29 anos, mulato, etc.
Trabalha na loja do pai,
A maior loja de ferragens da quadra.
Trabalha de macacão azul,
Neste momento usa sapatos de couro Grimaldi tamanho 40 e,
como o interior é apertado,
Se veem as meias da cor bordô.
Não precisa pegar ônibus,
Porque seu trabalho fica na esquina.
Agora está andando a pé sobre os Grimaldi 40.

Atravessa a rua,
O sinal está em bonequinho verde,
Ele olha para uma bosta de cachorro e decide não pisar.
Dá um passo largo que deixa desconjuntado o passo seguinte
então dá um passo menor
e retoma o equilíbrio.
Caminha e chega à loja de ferragens.
Saúda com a mão esquerda o pai, que está lá dentro.
O pai responde com a direita.
Abre a porta e diz ao mesmo tempo:
“Oi, pai”.
Fecha a porta num golpe.

Se beijam na bochecha e se falam.
A autora não chega a escutar o que dizem, então
utiliza a técnica da leitura labial
mas como eles estão de costas não logra se inteirar de nada.
O pai dá um papel
que ela supõe que é uma lista.
O filho, saindo do local, pisa a rua
e pode senti-la
já que faz uma cara de dor ao enfiar o pé num buraco.

*


A um escritor

você diz que vivemos com uma overdose de poesia
diz com um tom depreciativo muito seu,
o mesmo tom que usa, por exemplo, para falar
dos “poetas provincianos”,
nossos amigos
ou de Chacal
nosso ídolo, de quem diz
“é um gênio, mas improvisa demais”
Vamos usar uma página da nossa revista
super foda pra te contestar
e não porque seja importante senão
porque nesta cidade há milhares como você:
sim vivemos com uma overdose de poesia
fazemos isso todos os dias, 24 horas por dia
lançamos um ou dois plaquetes por semana
e aí?
me parece que ao nos tirar essa onda
tem algo de que não se deu conta:
se escrevêssemos mal
quem sabe poderíamos pedir às nossas mães
que nos mandem a um grupo de autoajuda
para poetas anônimas
mas escrevemos tão bem
que cada uma de nossas frases
é um presente que damos
a você bobinho
para que possa seguir fazendo
seus livrinhos com tomos
que ninguém lê.
E garanto que no seu próximo livro
vai haver algo como isso

*

 “O fim das ironias”

(Le Tigre)


*

TENHO UMA AMIGA RICA
                   
tenho um terno da “gucci”
dois casacos “prada”
uma capa “louis vitton”
um  sobretudo ”cacharel”
tudo,  presente
dela, minha amiga mais rica, casada com um dos homens mais ricos do
planeta.
tem avião privado
e duas vezes viajei nele, por todo o brasil
e de bruxelas  à budapeste.
foi como pegar um taxi
Em Londres tem um pent house que nos 70’s
era o boliche... me esqueci o nome, mas era muito famoso
lá tocavam os rolling stones quando não eram ninguém e david bowie
no bairro do soho agora renovado
Nos conhecemos em 1990, com 17 anos
as duas eram pobres
voltamos a nos encontrar em  agosto de 2000
ela era multimilionária
e me convidou a viver na Europa
numa conversa que sempre ia pra europa
Sua casa em Bruxelas fica numa rua
que na real é uma é uma passagem fechada
“bois de cambre”
no final da Avenue Louise, e onde começa um parque
um dos bairros mais aristocráticos da Europa
Essa foi a fase mais glamurosa da minha vida
Em Londres fomos jantar no mesmo clube que Madonna
um clube privado chamado “Home house”
ela é sócia.
Ela lê todas as novidades da literatura francesa
e vai no cinema quase todos os dias.
não é uma milionária cuzona
Mas seu brilho e seu esplendor foram demais pra mim
e brigamos
talvez algum dia
voltemos a nos encontrar.

*


já leu Adorno?
(guadalupe e ilana te explicam:
2374 0247 / 2306 0825)

*


a poesia de hotmail ou hotmail poetry é um novo gênero inventado por fernanda laguna e cecilia pavón em buenos aires em um lugar incerto entre almagro e congreso.

Às nossas leitoras:
hoje é sábado, onze da noite, estamos comendo, mas não vamos dormir depois.
vamos sair, vamos buscar algo na noite, para contar na revista.

Aos nossos críticos:
Talvez digam que esta revista é autorreferencial demais
talvez tenham razão
certamente,
esta é uma revista autorreferencial
mas...
talvez se equivoquem
e nós também
e isso seja algo ainda não inventado
quem sabe?
queremos novas gerações de críticos para falar de nós
“aceitamos o desafio da crítica dura”

Cecilia este é o final
estou esgotada. Escuto música e me anima.
Agora, vou a uma inauguração e todos estarão resplandecentes,
E eu,
cansada,
sem rouge, sem rímel,
com sapatos de salto vermelhos que me machucam.
Tenho um vestido novo de $4 que parece de $30
Fica ótimo.
Me deixa gorda.

Eu tenho 210 mensagens e 0 não lidas
0 NÃO LIDAS!
ah... este é o final para mim

this is hotmail poetry: “send me an email that says I love you”: Pet shop boys.



[textos de “Ceci y Fer (poeta y revolucionaria)”. Año I. N I – 2002, Buenos Aires, Argentina – Revista feita por Cecília Pavón e Fernanda Laguna. Em traduções de Lucas Matos, Marcio Junqueira e Thiago Gallego]

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